domingo, 27 de maio de 2012

Dinâmica para combater Bullying




A NOTA DE 10 REAIS


Você vai precisar de: Uma nota de 10 reais ou de valor menor se seus alunos forem mais novos.







PROPÓSITO
 Apesar de toda a atenção dada pelo corpo docente aos problemas de rejeição em sala de aula, ainda há dificuldade de colocar fim na crueldade coletiva que inci­de sobre o aluno que é unanimemente considerado bode expiatório, sendo cons­tantemente ridicularizado e condenado ao ostracismo.



 Individual
O professor mostra a nota de dinheiro para o aluno que é vítima de rejeição, perguntando a ele qual o valor da nota. Depois que o aluno der a resposta, o pro­fessor dobra a nota com energia similar a usada pelas crianças "agressoras", com desprezo e, talvez, até certo grau de prazer - amassando e esticando a nota, usan­do, tanto quanto possível, as mesmas observações destrutivas e a má vontade que geralmente são direcionadas para esse aluno. O professor se certifica de que o aluno se identifica com a nota de dinheiro perguntando, por exemplo: "Isso é o que eles fazem com você, não é mesmo? Você se sente um pouco como essa nota de dinheiro? Você se sente rejeitado, esmagado por todos e nem liga muito para isso? Você acha que os outros estão certos em tratar você assim? Você também acha que você não vale muita coisa?" Quando o aluno responder afirmativamen­te, o professor pega a nota de dinheiro com mais respeito, desamassa a nota cui­dadosamente, e pergunta novamente: "Quanto vale esta nota de dinheiro?" O aluno reconhece que o valor da nota é ainda o mesmo, idêntico ao que era no co­meço, independente de como ela foi tratada. Você pode fazer o aluno entender que, de forma similar, apesar do que os outros dizem e do jeito como o tratam, seu valor permanece intacto e imutável. Essa imagem se mostra tão forte e con­creta que o aluno adquire nova confiança e se torna capaz de manter sua auto-confiança 
começando a demonstrar reações quando os outros tentam desestabilizá-lo ou rejeitá-lo. 

Individual
A variação dessa técnica pode se mostrar ainda mais eficiente com crianças mais novas. Em uma folha de papel, o próprio aluno escreve as qualidades que caracterizam sua inteligência, sua gentileza, sua afetuosidade, sua honestidade etc. O professor segue os mesmos procedimentos descritos com a nota de di­nheiro, mas agora com a folha de papel do aluno. Depois de alisar o papel amassado, o professor pergunta se as qualidades ainda estão escritas no papel, obviamente, elas não desapareceram. A criança pode guardar o papel como lem­brete e, assim, ancorar os benefícios dessa experiência com mais profundidade.







Dinâmica com alunos - Pote das Preocupações


O POTE DAS PREOCUPAÇÕES                                                                                    






PROPÓSITO

Distrações, aborrecimentos e preocupa­ções não só interferem na concentração em sala de aula, mas também geram ou­tros problemas, prejudicando a compre­ensão da lição, produzindo baixos rendi­mentos e, eventualmente, deixando alu­nos para trás, situações que precisam ser recuperadas.

 
Você vai precisar de: Um pote de vidro com uma etiqueta com as palavras "Dístrações, aborrecimentos e preocupações.
Esta dinâmica pode ser Individual ou em grupo
O professor informa ao aluno ou aos alunos que o pote é especialmente reservado para os aborrecimentos e preocupações que eles possa ter com a família, a saúde, os recursos financeiros da família (ou destinados a eles), o que as outras pessoas pensam sobre as roupas deles etc. O pote pode também conter todo tipo de distrações: pensamentos rápidos sobre as próximas féria, planos para a noite ou para o fim de semana, seu programa favorito de TV, lazer, uma apresentação oral que terão que fazer em breve etc. Antes de começar a aula o professor deve lembrar aos alunos que qualquer um que sinta necessidade deve colocar os pensamentos que possam minar sua concentração no pote e em seguida fechá-lo com bastante força (de forma que nenhum pensamento perlurbador possa escapar). O pote permanecerá fechado até o fim da aula e, então, os aluno poderão reapropriar-se de suas preocupações e distrações, se assim desejarem.Nesse meio tempo, os alunos não serão perturbados por esses pensamentos e serão capazes de direcionar todo o esforço para manter a atenção voltada para a lição que estava sendo dada. Se acontecer, no entanto, de um aluno sucumbir à distração, o professor pode simplesmente reforçar o lembrete com um leve tapinha no ombro desse aluno. A explanação dada no começo da aula pode ser rapidamente retomada, poupando tempo, energia e, além disso, reforçando o sentimento de colaboração entre o aluno e o professor, bem como entre todos os alunos da saula de aula. No mesmo espírito de colaboração, o professor pode pedir para também usar o "pote das preocupações", informando aos alunos, por exemplo, que não há mais muito espaço no pote porque muias coisas foram colocadas nele. Confidenciando à turma que ele também precisa colocar de lado certas preocupações, o adulto reforça no aluno a autodisciplina sobre seus pensamentos.

Resiliência - Motivacional


Atívidades Lúdicas para Alfabetização


 Atividades Lúdicas para Alfabetização - Jogo do Bingo

Material: saco de plástico, cartolina, tampas de garrafas e canetas.

Elaboração do material: A professora prepara um cartão para cada aluno da turma. Cada cartão deve ser dividido em tantos quadrados quantos forem as letras do nome do aluno. Em cada quadradinho escreve-se uma letra.


Em pequenas fichas escrevem-se as letras do alfabeto observando para que apareçam todas as letras necessárias para a escrita dos nomes dos alunos.

Jogo: Com as fichas das letras dentro de um saco de plástico e cada aluno de posse do seu cartão inicia-se o jogo. Primeiramente, é sorteada uma letra pela professora e mostrada aos alunos. O aluno que encontrar no seu cartão a letra, marca-a com uma tampinha. A professora segue cantando letra por letra até acabarem as fichas do saco.


Variações do jogo:
1.1 O cartão do Bingo de cada aluno é formado por nomes dos colegas. A professora canta as fichas dos nomes, mostrando-as aos alunos, para que marquem no seu cartão. Num segundo momento pode-se utilizar um lado do cartão com letra script e do outro lado com letra cursiva ou um lado só com letras maiúsculas e outro com letra inicial maiúscula e o restante do nome com letra minúscula.

1.2 Cartão com palavras e fichas com desenho;
1.3 Cartão com desenho e fichas com palavras;
1.4 Cartão e fichas com palavras do vocabulário de estudo;
1.5 Cartão com letra cursiva e fichas com letra script.



Atividades Lúdicas para Alfabetização - Jogo do Dominó
Material:cartolina e canetas.

Elaboração do material: recorta-se a cartolina em rectângulos de 8 cm x 4 cm aproximadamente. Com uma caneta risca-se um traço dividindo o rectângulo.

Em cada peça escreve-se, no lado direito, o nome de um aluno e o mesmo nome deve ser escrito no lado esquerdo da outra peça e assim sucessivamente.


Jogo: divide-se a turma em grupos de dois alunos e, a cada grupo, entrega-se um conjunto de aproximadamente 20 peças. Todas as peças devem ser viradas para baixo, embaralhadas e divididas entre os jogadores.

Um aluno inicia o jogo colocando uma peça de dominó no centro da mesa. O outro jogador deve procurar uma peça que contenha um dos nomes que se encontra nas pontas. Quando encontrado deve-se encostar as peças com nomes iguais.

Se o jogador não tiver a peça que contenha um dos nomes que se encontra sem par sobre a mesa, deve passar para o próximo jogador.

Vence o jogo aquele que ficar sem nenhuma peça primeiro.

Variações do jogo:

Fichas escritas de diferentes formas o mesmo nome. Cada aluno deve encontrar todas as fichas com seu nome podendo agrupar, colar, fazer um relatório mencionando a quantidade de nomes encontrados...

 

Atividades Lúdicas para Alfabetização - Jogo do Quebra-Cabeças


Material: cartolina e canetinha.

Elaboração do material: recortam-se rectângulos de cartolina. Em cada cartão escreve-se o nome de um aluno da sala de aula. Devem-se fazer dois a três cartões com o mesmo nome. Divide-se o cartão em dois pedaços variando a forma do corte.

Jogo: a cada grupo de alunos, a professora entrega um conjunto de nomes com peças embaralhadas. Os alunos deverão montar o quebra-cabeças e identificar qual colega tem o seu nome escrito no cartão.

Variações do mesmo jogo:

2.1 Dividir o nome em mais de dois pedaços.

2.2 Num pedaço do quebra-cabeças escreve-se a letra inicial e no outro e o restante do nome.
2.3 Dividir o cartão em letras. Exemplo:
2.4 Usar palavras do vocabulário em estudo no lugar dos nomes;

2.5 Desenho e palavra: divide-se o cartão com traços pontilhados. Entrega-se a cada aluno dois ou três cartões. A criança escreve uma palavra na parte inferior e na parte superior desenha o que foi escrito.

No momento seguinte, a criança deve recortar o cartão observando as linhas pontilhadas. Depois, é só trocar com o colega, embaralhar e montar.



2.6 Quebra cabeça de frase. Exemplo:
 

Atividades Lúdicas para Alfabetização – Jogo da Memória


Jogo: As regras do jogo são as mesmas do convencional Jogo da Memória. Recortam-se fichas quadradas de cartolina do mesmo tamanho. Em cada ficha escreve-se o nome de um membro do grupo e, noutras fichas, a letra inicial de tal modo que cada participante tenha um par de fichas - nome e letra inicial.

Para iniciar o jogo, viram-se as fichas com o escrito para baixo. Um aluno vira duas fichas em busca dos respectivos pares (nome e letra inicial). Cada vez que um aluno encontrar o par deve jogar novamente.

Vence o jogo o aluno que conseguir o maior número de pares no final do jogo.

Podemos variar este jogo usando palavras do vocabulário em estudo e desenhos feitos pelas crianças ou palavra escrita em script e palavra escrita com letra cursiva.




Atividades Lúdicas para Alfabetização – Jogo do “Mico” Preto


Material:cartolina e canetas.

Elaboração do material: recorta-se a cartolina em rectângulos de 10 cm x 6 cm. Escreve-se o nome do aluno em dois cartões de tal maneira que cada aluno tenha o seu nome escrito duas vezes.

Numa outra cartela solicita-se que um aluno desenhe um “MICO” que ficará sem par.

Jogo: para cada grupo de 4 alunos é distribuído um cartão com um desenho de Mico e 12 pares de nomes. Embaralham-se os cartões e distribui-se um a um para cada jogador. Sem deixar que os colegas vejam, procurar encontrar os pares nos cartões recebidas. Caso seja encontrado, o aluno mostra-o para os demais jogadores e retira o par para o lado para posterior contagem de pontos.

Inicia-se a rodada por um aluno que escolhe, sem ver, uma carta da mão do colega que se encontra à sua direita. Confere para ver se tem outra igual entre as suas cartas, com o objectivo de formar o par.

Seguem-se tantas rodadas quantas forem necessárias para que todos os pares sejam encontrados. Ganha o jogo quem adquirir o maior número de pares.


Variações do jogo:
3.1 palavra x desenho. Exemplo:

3.2 letra inicial x nome do aluno;

3.3 palavra x palavra;

3.4 letra script x letra cursiva.

Alfabetização - Sons dos Fonemas


Alfabetização - Som dos fonemas

sábado, 26 de maio de 2012

A Semente do Sucesso

A Semente do Sucesso
Por Autor Desconhecido

Um empresário bem-sucedido sabia que era tempo de escolher um sucessor para liderar seus negócios. Ao invés de designar um dos diretores ou um de seus filhos, ele reuniu os jovens executivos de sua empresa e lhes disse: “Chegou o momento em que devo escolher o próximo CEO. Decidi escolher um de vocês”. 

Os jovens executivos ficaram surpresos, mas o CEO continuou: “Eu vou dar a cada um de vocês uma semente hoje – uma semente muito especial. Plantem-na, reguem-na e daqui a um ano tragam-me o que vocês cultivaram a partir dessa semente. Eu vou julgar as plantas que vocês me trouxerem e escolher o próximo CEO”. 

Um deles, Jaime, entusiasmado, contou o plano à esposa. Ela o ajudou a encontrar um vaso, terra e adubo e plantou a semente. Todos os dias, ele a regou e observou para ver seu crescimento. Em pouco tempo os executivos começaram a falar sobre suas plantas que começavam a crescer. 

Jaime continuou a checar sua semente, mas nada germinava. Passaram-se semanas e nada. Todos os outros falavam de suas plantas, mas Jaime não fizera a sua germinar e sentia que tinha fracassado. Seis meses se passaram e nada ainda surgira no seu vaso. Ele concluiu que tinha matado sua semente, mas não disse nada aos colegas. 

Ele continuou a regar e adubar o solo e queria desesperadamente que a semente germinasse. Quando findou o ano, os executivos foram instruídos a levar suas plantas para serem inspecionadas pelo CEO. Jaime disse à esposa que se recusava a levar um vaso sem nada, mas ela insistiu para que ele fosse honesto sobre o que tinha acontecido. Seria o momento mais embaraçoso por que ele já passara, mas ele sabia que a esposa estava certa.

Jaime levou seu vaso sem planta para a sala de reunião. Quando chegou, a variedade de plantas que os outros executivos tinham cultivado o deixaram surpreso. Eram lindas e de vários formatos e tamanhos. Quando colocou seu vaso sem planta no chão, muitos de seus colegas riram.

O CEO chegou e Jaime tentou se esconder no fundo da sala. “Ora, que plantas, árvores e flores maravilhosas vocês cultivaram”, disse o CEO. “Hoje um de vocês será designado o novo CEO!”  Foi então que ele notou Jaime e o convidou para ir à frente com seu vaso sem planta. 

Jaime estava apavorado. “O CEO sabe que sou um fracasso! Talvez ele vá me despedir!”- pensou. O CEO perguntou o que acontecera com sua semente. Jaime explicou que, apesar de seus esforços, nada germinara. O CEO voltou-se para o grupo e mandou que todos se sentassem, menos Jaime. E olhando para ele, anunciou: “Olhem para o seu novo CEO! Seu nome é Jaime!”

O CEO, então, explicou: “Há um ano eu dei a cada um desta sala uma semente. Eu lhes disse para plantá-la, regá-la e trazê-la de volta após um ano. Mas eu dei a todos vocês sementes que tinham sido fervidas; não era possível que germinassem. Todos vocês, exceto Jaime, trouxeram plantas e flores saudáveis. Quando descobriram que a semente não germinava, vocês a substituíram por outra.  Jaime foi o único com coragem e honestidade para me apresentar um vaso com a minha semente. Portanto, ele será o único a ser escolhido o novo CEO”.

Alguém disse: "Se você plantar honestidade, colherá confiança. Se plantar humildade, colherá grandeza. Se plantar perseverança, colherá satisfação. Se plantar trabalho duro, colherá sucesso. Se plantar perdão, colherá reconciliação. Se plantar fé, colherá uma safra. Portanto, seja cuidadoso com o que planta hoje; isso determinará o que você colherá amanhã". 

"A pessoa honesta anda em paz e segurança, mas a desonesta será desmascarada" - Provérbios 10.9 
"As pessoas direitas são guiadas pela honestidade. A perversidade dos falsos é a sua própria desgraça" - Provérbios 11.3

Aprender a Aprender

Vale a pena ver este vídeo que transmite uma mensagem a todos os educadores.

Ser professor de periferia é assim...

Sempre podemos dar um jeito, pois somos brasileiros e acreditamos em mudanças.

Hinário - Nacional e de Santana de Parnaíba

Hino Nacional e Hino de Santana de Parnaíba

quarta-feira, 23 de maio de 2012

CARL ROGERS

Carl Rogers, um psicólogo a serviço do estudante

Para o fundador da terapia não-diretiva, a tarefa do professor é liberar o caminho para que o estudante aprenda o que quiser

Carl Rogers. Foto: reprodução / arquivo pessoal
Carl Rogers
As idéias do norte-americano Carl Rogers (1902-1987) para a educação são uma extensão da teoria que desenvolveu como psicólogo. Nos dois campos sua contribuição foi muito original, opondo-se às concepções e práticas dominantes nos consultórios e nas escolas. A terapia rogeriana se define como não-diretiva e centrada no cliente (palavra que Rogers preferia a paciente), porque cabe a ele a responsabilidade pela condução e pelo sucesso do tratamento. Para Rogers, o terapeuta apenas facilita o processo. Em seu ideal de ensino, o papel do professor se assemelha ao do terapeuta e o do aluno ao do cliente. Isso quer dizer que a tarefa do professor é facilitar o aprendizado, que o aluno conduz a seu modo.

A teoria rogeriana - que tem como característica um extenso repertório de expressões próprias - surgiu como uma terceira via entre os dois campos predominantes da psicologia em meados do século 20. De um lado havia a psicanálise, criada por Sigmund Freud (1856-1939), com sua prática balizada pela ortodoxia, e, de outro, o behaviorismo, que na época tinha B. F. Skinner (1904-1990) como expoente e se caracteriza pela submissão à biologia. A corrente de Rogers ficou conhecida como humanista, porque, em acentuado contraste com a teoria freudiana, ela se baseia numa visão otimista do homem.

Para Rogers, a sanidade mental e o desenvolvimento pleno das potencialidades pessoais são tendências naturais da evolução humana. Removidos eventuais obstáculos nesse processo, as pessoas retomam a progressão construtiva. "Ele chamou a atenção para a formação da pessoa, a importância de viver em busca de uma harmonia consigo mesma e com o entorno social", diz Ana Gracinda Queluz, pró-reitora adjunta de pesquisa e pós-graduação da Universidade Cidade de São Paulo.

Rogers sustentava que o organismo humano - assim como todos os outros, incluindo o das plantas - possui uma tendência à atualização, que tem como fim a autonomia. Na teoria rogeriana, essa é a única força motriz dos seres vivos. No caso particular dos seres humanos, segundo Rogers, o processo constante de atualização gerou a sociedade e a cultura, que se tornam forças independentes dos indivíduos e podem trabalhar contra o desenvolvimento de suas potencialidades.

 O saudável é natural

Uma crença básica de Rogers é que o organismo humano sabe o que é melhor para ele e para isso conta com sentidos aprimorados ao longo da evolução da espécie. Tato, olfato e paladar reconhecem como prazeroso (sabor e cheiro agradáveis, por exemplo) o que é saudável. Igualmente, nossos instintos estão prontos a valorizar a "consideração positiva", conceito rogeriano que engloba atitudes como cuidado, carinho, atenção etc.

Até aqui, tudo bem - as pessoas sabem o que é bom para elas e podem encontrar aquilo de que necessitam na natureza e na família. O problema, segundo Rogers, é que a sociedade e a cultura desenvolvem mecanismos que contrariam essas relações potencialmente harmoniosas. Entre os mais nocivos está a "valorização condicional", o hábito que a família, a escola e outras instituições sociais têm de apenas atender às necessidades do indivíduo se ele se provar merecedor. Decorrem disso a "consideração positiva condicional" - cujo exemplo típico é o carinho dos pais dado como recompensa por bom comportamento - e a "autoconsideração positiva condicional" - originada pela tendência que as pessoas têm a absorver os valores culturais e utilizá-los como parâmetro para a valorização de si mesmas.

Funcionalidade plena

Do conflito entre o indivíduo ("sou") e o que se exige dele ("devo ser") nasce o que Rogers chama de incongruência, que gera sofrimento. Esse é o processo que, para ele, define neurose. Ao se ver pressionada a corresponder às expectativas sociais, a pessoa se vê numa situação de ameaça, o que a leva a desenvolver defesas psicológicas.

Diante disso, o objetivo do terapeuta e do professor é permitir que seus clientes e alunos se tornem pessoas "plenamente funcionais", ou seja, saudáveis. As principais marcas desse estado de funcionalidade são a abertura a novas experiências, capacidade de viver o aqui e o agora, confiança nos próprios desejos e intuições, liberdade e responsabilidade de agir e disponibilidade para criar.

Já que se tornar uma pessoa saudável é, basicamente, uma questão de ouvir a si mesma e satisfazer os próprios desejos (ou interesses), as melhores qualidades de um terapeuta ou de um professor são saber facilitar esses processos e interferir o menos possível. É esse o significado do termo "não-diretivo", a marca registrada do rogerianismo. Para que o terapeuta ou o professor seja capaz de exercer tal papel, três qualidades são requeridas: congruência - ser autêntico com o cliente/aluno; empatia - compreender seus sentimentos; e respeito - "consideração positiva incondicional", no jargão rogeriano. "O difícil na teoria rogeriana é mudar a postura diante do outro e não se surpreender com o que é humano", diz Ana Gracinda. Em grande parte, para Rogers, a chave do ensino produtivo é uma questão de ética.

 O mais importante é a relação aluno-professor

No campo da educação, Carl Rogers pouco se preocupou em definir práticas. Chegou a afirmar que "os resultados do ensino ou não têm importância ou são perniciosos". Acreditava ser impossível comunicar diretamente a outra pessoa o conhecimento que realmente importa e que ele definiu como "a verdade que foi captada e assimilada pela experiência pessoal". Além disso, Rogers estava convencido de que as pessoas só aprendem aquilo de que necessitam ou o que querem aprender. Sua atenção recaiu sobre a relação aluno-professor, que deve ser impregnada de confiança e destituída de noções de hierarquia. Instituições como avaliação, recompensa e punição estão completamente excluídas, exceto na forma de auto-avaliação. Embora anticonvencional, a pedagogia rogeriana não significa abandonar os alunos a si mesmos, mas dar apoio para que caminhem sozinhos.


Biografia

Carl Ransom Rogers nasceu em Oak Park, perto de Chicago, em 1902. Teve uma infância isolada e uma educação fortemente marcada pela religião. Tornou-se pastor e encaminhou os estudos para a teologia, quando começou a se interessar por psicologia. Na nova carreira, o primeiro foco de trabalho foram crianças submetidas a abusos e maus-tratos. Por essa época começou, por observação, a desenvolver suas teorias sobre personalidade e prática terapêutica. Aos 40 anos publicou o primeiro livro. Seguiram-se mais de 100 publicações destinadas a divulgar suas idéias, que ganharam seguidores em todo o mundo. Rogers quis provocar uma ruptura na psicologia, dando a condução do tratamento ao cliente, e não temeu acusar de autoritários a maioria dos métodos hegemônicos na área. O pilar da terapia rogeriana são os "grupos de encontro", em que vários clientes interagem. Rogers foi um dos primeiros a gravar e filmar as sessões de terapia. Morreu de um ataque cardíaco em 1987, em San Diego, Califórnia.

Teoria adequada a um tempo de contestação
Hippies norte-americanos dos anos 1960: contracultura adotou as idéias de Rogers. Foto: John Dominis/Getty Images
Hippies norte-americanos dos anos  1960: contracultura adotou as idéias  de Rogers.
Nascido no meio rural, Carl Rogers foi marcado por toda a vida pela idéia da natureza e pelo fenômeno do crescimento - o objetivo de sua terapia era crescimento pessoal e não uma idéia estática de maturidade emocional -, o que o levou a se aprofundar no estudo da obra do educador e filósofo norteamericano John Dewey (1859-1952). Como alguém cujo tempo de vida quase coincidiu com o século 20, Rogers teve a possibilidade de testemunhar o surgimento de várias correntes psicológicas e a disseminação da psicoterapia - um conhecimento indispensável para que, por oposição, ele criasse a sua própria corrente. O aspecto marcadamente antiautoritário e anticonvencional de seu pensamento o tornou muito atraente nos anos 1960, durante o auge da contracultura, representada em parte pelo movimento hippie. No Brasil, a influência de Rogers também se deu por essa época, em particular na formação de orientadores educacionais. "Os orientadores agiam em grande parte como mediadores de conflito e o conhecimento de Rogers permitia que eles pudessem exercer a função sem punições, mas também sem fechar os olhos para os problemas", diz a educadora Ana Gracinda Queluz.

Reflexão

Uma crítica que se costuma fazer à influência de Rogers na educação é que suas idéias incentivam uma liberdade sem limites, permitindo que os alunos façam o que querem, levando à indisciplina e ao individualismo. Outra objeção comum, desta vez no campo teórico, é que Rogers via os seres humanos com excessiva benevolência, sem levar em consideração possíveis impulsos inatos para a agressividade, a competição ou a autodestruição. Baseado em sua experiência em sala de aula, qual é sua opinião? É possível fundamentar a prática pedagógica na idéia de que todo aluno tem tendência natural ao aprendizado e a relações interpessoais construtivas?

Leitura para aprofundamento
Liberdade para Aprender, Carl R. Rogers, 330 págs., Ed. Interlivros (edição esgotada)
Psicologia & Educação: Revendo Contribuições, Vera Maria Nigro de Souza Placco (org.), 180 págs., Ed. Educ/Fapesp, tel. (11) 3670- 8558, 22 reais
Tornar-se Pessoa, Carl R. Rogers, 514 págs., Ed. Martins Fontes, tel. (11) 3241-3677, 66,80 reais




VYGOTSKY

Lev Vygotsky, o teórico do ensino como processo social

A obra do psicólogo ressalta o papel da escola no desenvolvimento mental das crianças e é uma das mais estudadas pela pedagogia contemporânea

Lev Vygotsky. Foto: reprodução
Lev Vygotsky
O psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934) morreu há mais de 70 anos, mas sua obra ainda está em pleno processo de descoberta e debate em vários pontos do mundo, incluindo o Brasil. "Ele foi um pensador complexo e tocou em muitos pontos nevrálgicos da pedagogia contemporânea", diz Teresa Rego, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Ela ressalta, como exemplo, os pontos de contato entre os estudos de Vygotsky sobre a linguagem escrita e o trabalho da argentina Emilia Ferreiro, a mais influente dos educadores vivos.

A parte mais conhecida da extensa obra produzida por Vygotsky em seu curto tempo de vida converge para o tema da criação da cultura. Aos educadores interessa em particular os estudos sobre desenvolvimento intelectual. Vygotsky atribuía um papel preponderante às relações sociais nesse processo, tanto que a corrente pedagógica que se originou de seu pensamento é chamada de socioconstrutivismo ou sociointeracionismo.

Surge da ênfase no social uma oposição teórica em relação ao biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), que também se dedicou ao tema da evolução da capacidade de aquisição de conhecimento pelo ser humano e chegou a conclusões que atribuem bem mais importância aos processos internos do que aos interpessoais. Vygotsky, que, embora discordasse de Piaget, admirava seu trabalho, publicou críticas ao suíço em 1932. Piaget só tomaria contato com elas nos anos 1960 e lamentou não ter podido conhecer Vygotsky em vida. Muitos estudiosos acreditam que é possível conciliar as obras dos dois.

 Relação homem-ambiente

Os estudos de Vygotsky sobre aprendizado decorrem da compreensão do homem como um ser que se forma em contato com a sociedade. "Na ausência do outro, o homem não se constrói homem", escreveu o psicólogo. Ele rejeitava tanto as teorias inatistas, segundo as quais o ser humano já carrega ao nascer as características que desenvolverá ao longo da vida, quanto as empiristas e comportamentais, que vêem o ser humano como um produto dos estímulos externos. Para Vygotsky, a formação se dá numa relação dialética entre o sujeito e a sociedade a seu redor - ou seja, o homem modifica o ambiente e o ambiente modifica o homem. Essa relação não é passível de muita generalização; o que interessa para a teoria de Vygotsky é a interação que cada pessoa estabelece com determinado ambiente, a chamada experiência pessoalmente significativa.

Segundo Vygotsky, apenas as funções psicológicas elementares se caracterizam como reflexos. Os processos psicológicos mais complexos - ou funções psicológicas superiores, que diferenciam os humanos dos outros animais - só se formam e se desenvolvem pelo aprendizado. Entre as funções complexas se encontram a consciência e o discernimento. "Uma criança nasce com as condições biológicas de falar, mas só desenvolverá a fala se aprender com os mais velhos da comunidade", diz Teresa Rego.

Outro conceito-chave de Vygotsky é a mediação. Segundo a teoria vygotskiana, toda relação do indivíduo com o mundo é feita por meio de instrumentos técnicos - como, por exemplo, as ferramentas agrícolas, que transformam a natureza - e da linguagem - que traz consigo conceitos consolidados da cultura à qual pertence o sujeito.

 O papel do adulto

Todo aprendizado é necessariamente mediado - e isso torna o papel do ensino e do professor mais ativo e determinante do que o previsto por Piaget e outros pensadores da educação, para quem cabe à escola facilitar um processo que só pode ser conduzido pelo própria aluno. Segundo Vygotsky, ao contrário, o primeiro contato da criança com novas atividades, habilidades ou informações deve ter a participação de um adulto. Ao internalizar um procedimento, a criança "se apropria" dele, tornando-o voluntário e independente.

Desse modo, o aprendizado não se subordina totalmente ao desenvolvimento das estruturas intelectuais da criança, mas um se alimenta do outro, provocando saltos de nível de conhecimento. O ensino, para Vygotsky, deve se antecipar ao que o aluno ainda não sabe nem é capaz de aprender sozinho, porque, na relação entre aprendizado e desenvolvimento, o primeiro vem antes. É a isso que se refere um de seus principais conceitos, o de zona de desenvolvimento proximal, que seria a distância entre o desenvolvimento real de uma criança e aquilo que ela tem o potencial de aprender - potencial que é demonstrado pela capacidade de desenvolver uma competência com a ajuda de um adulto. Em outras palavras, a zona de desenvolvimento proximal é o caminho entre o que a criança consegue fazer sozinha e o que ela está perto de conseguir fazer sozinha. Saber identificar essas duas capacidades e trabalhar o percurso de cada aluno entre ambas são as duas principais habilidades que um professor precisa ter, segundo Vygotsky.

Expansão dos horizontes mentais

Como Piaget, Vygotsky não formulou uma teoria pedagógica, embora o pensamento do psicólogo bielo-russo, com sua ênfase no aprendizado, ressalte a importância da instituição escolar na formação do conhecimento. Para ele, a intervenção pedagógica provoca avanços que não ocorreriam espontaneamente. Ao formular o conceito de zona proximal, Vygotsky mostrou que o bom ensino é aquele que estimula a criança a atingir um nível de compreensão e habilidade que ainda não domina completamente, "puxando" dela um novo conhecimento. "Ensinar o que a criança já sabe desmotiva o aluno e ir além de sua capacidade é inútil", diz Teresa Rego. O psicólogo considerava ainda que todo aprendizado amplia o universo mental do aluno. O ensino de um novo conteúdo não se resume à aquisição de uma habilidade ou de um conjunto de informações, mas amplia as estruturas cognitivas da criança. Assim, por exemplo, com o domínio da escrita, o aluno adquire também capacidades de reflexão e controle do próprio funcionamento psicológico.


Biografia

Lev Semenovitch Vygotsky nasceu em 1896 em Orsha, pequena cidade perto de Minsk, a capital da Bielo-Rússia, região então dominada pela Rússia (e que só se tornou independente em 1991, com a desintegração da União Soviética, adotando o nome de Belarus). Seus pais eram de uma família judaica culta e com boas condições econômicas, o que permitiu a Vygotsky uma formação sólida desde criança. Ele teve um tutor particular até entrar no curso secundário e se dedicou desde cedo a muitas leituras. Aos 18 anos, matriculou-se no curso de medicina em Moscou, mas acabou cursando a faculdade de direito. Formado, voltou a Gomel, na Bielo-Rússia, em 1917, ano da revolução bolchevique, que ele apoiou. Lecionou literatura, estética e história da arte e fundou um laboratório de psicologia - área em que rapidamente ganhou destaque, graças a sua cultura enciclopédica, seu pensamento inovador e sua intensa atividade, tendo produzido mais de 200 trabalhos científicos. Em 1925, já sofrendo da tuberculose que o mataria em 1934, publicou A Psicologia da Arte, um estudo sobre Hamlet, de William Shakespeare, cuja origem é sua tese de mestrado.

Tempo de revolução
Lênin discursa em São Petersburgo (então Petrogrado) em março de 1917: agitação política e cultural. Foto: HULTON ARCHIVE/Getty Images
Lênin discursa em São Petersburgo  (então Petrogrado) em março de 1917:  agitação política e cultural.
Em menos de 38 anos de vida, Vygotsky conheceu momentos políticos drasticamente diferentes, que tiveram forte influência em seu trabalho. Nascido sob o regime dos czares russos, Vygotsky acompanhou de perto, como estudante e intelectual, os acontecimentos que levaram à revolução comunista de 1917. O período que se seguiu foi marcado, entre outras coisas, por um clima de efervescência intelectual, com a abertura de espaço para as vanguardas artísticas e o pensamento inovador nas ciências, além de uma preocupação em promover políticas educacionais eficazes e abrangentes. Logo após a revolução, Vygotsky intensificou seus estudos sobre psicologia. Visitou comunidades rurais, onde pesquisou a relação entre nível de escolaridade e conhecimento e a influência das tradições no desenvolvimento cognitivo. Com a ascensão ao poder de Josef Stalin, em 1924, o ambiente cultural ficou cada vez mais limitado. Vygotsky usou a dialética marxista para sua teoria de aprendizado, mas sua análise da importância da esfera social no desenvolvimento intelectual era criticada por não se basear na luta de classes, como se tornara obrigatório na produção científica soviética. Em 1936, dois anos após sua morte, toda a obra de Vygotsky foi censurada pela ditadura de Stalin e assim permaneceu por 20 anos.



Pense sobre isso:

Vygotsky atribuiu muita importância ao papel do professor como impulsionador do desenvolvimento psíquico das crianças. A idéia de um maior desenvolvimento conforme um maior aprendizado não quer dizer, porém, que se deve apresentar uma quantidade enciclopédica de conteúdos aos alunos. O importante, para o pensador, é apresentar às crianças formas de pensamento, não sem antes detectar que condições elas têm de absorvê-las. E você? Já pensou em elaborar critérios para avaliar as habilidades que seus alunos já têm e aquelas que eles poderão adquirir? Percebe que certas atividades estimulam as crianças a pensar de um modo novo e que outras não despertam o mesmo entusiasmo?
Para aprofundamento, leia:
A Formação Social da Mente, Lev S. Vygotsky, 224 págs., Ed. Martins Fontes, tel. (11) 3241-3677, 39,80 reais
Vygotsky - Aprendizado e Desenvolvimento, Marta Kohl de Oliveira, 112 págs., Ed. Scipione, tel. 0800-161-700, 37,90 reais
Vygotsky - Uma Perspectiva Histórico-Cultural da Educação, Teresa Cristina Rego, 140 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2246-5552, 20 reais
Vygotsky - Uma Síntese, René van der Veer e Jaan Valsiner, 480 págs., Ed. Loyola, tel. (11) 6914-1922, 70,70 reais

WALLON

Henri Wallon, o educador integral

Militante apaixonado, o médico, psicólogo e filósofo francês mostrou que as crianças têm também corpo e emoções (e não apenas cabeça) na sala de aula

Henri Wallon. Foto: Roger Viollet
Henri Wallon
Falar que a escola deve proporcionar formação integral (intelectual, afetiva e social) às crianças é comum hoje em dia. No início do século passado, porém, essa idéia foi uma verdadeira revolução no ensino. Uma revolução comandada por um médico, psicólogo e filósofo francês chamado Henri Wallon (1879-1962). Sua teoria pedagógica, que diz que o desenvolvimento intelectual envolve muito mais do que um simples cérebro, abalou as convicções numa época em que memória e erudição eram o máximo em termos de construção do conhecimento.

Wallon foi o primeiro a levar não só o corpo da criança mas também suas emoções para dentro da sala de aula. Fundamentou suas idéias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. Militante apaixonado (tanto na política como na educação), dizia que reprovar é sinônimo de expulsar, negar, excluir. Ou seja, "a própria negação do ensino".

As emoções, para Wallon, têm papel preponderante no desenvolvimento da pessoa. É por meio delas que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades. Em geral são manifestações que expressam um universo importante e perceptível, mas pouco estimulado pelos modelos tradicionais de ensino.


Afetividade

As transformações fisiológicas em uma criança (ou, nas palavras de Wallon, em seu sistema neurovegetativo) revelam traços importantes de caráter e personalidade. "A emoção é altamente orgânica, altera a respiração, os batimentos cardíacos e até o tônus muscular, tem momentos de tensão e distensão que ajudam o ser humano a se conhecer", explica Heloysa Dantas, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), estudiosa da obra de Wallon há 20 anos. Segundo ela, a raiva, a alegria, o medo, a tristeza e os sentimentos mais profundos ganham função relevante na relação da criança com o meio. "A emoção causa impacto no outro e tende a se propagar no meio social", completa a pedagoga Izabel Galvão, também da USP. Ela diz que a afetividade é um dos principais elementos do desenvolvimento humano.

Wallon na escola: humanizar a inteligência
Desenho ilustra a proporção do corpo: pessoa como um todo
O desenho ao lado ilustra a proporção do corpo:  pessoa como um todo
Diferentemente dos métodos tradicionais (que priorizam a inteligência e o desempenho em sala de aula), a proposta walloniana põe o desenvolvimento intelectual dentro de uma cultura mais humanizada. A abordagem é sempre a de considerar a pessoa como um todo. Elementos como afetividade, emoções, movimento e espaço físico se encontram num mesmo plano. As atividades pedagógicas e os objetos, assim, devem ser trabalhados de formas variadas. Numa sala de leitura, por exemplo, a criança pode ficar sentada, deitada ou fazendo coreografias da história contada pelo professor. Os temas e as disciplinas não se restringem a trabalhar o conteúdo, mas a ajudar a descobrir o eu no outro. Essa relação dialética ajuda a desenvolver a criança em sintonia com o meio.

 Movimento

Segundo a teoria de Wallon, as emoções dependem fundamentalmente da organização dos espaços para se manifestarem. A motricidade, portanto, tem caráter pedagógico tanto pela qualidade do gesto e do movimento quanto por sua representação. Por que, então, a disposição do espaço não pode ser diferente? Não é o caso de quebrar a rigidez e a imobilidade adaptando a sala de aula para que as crianças possam se movimentar mais? Mais que isso, que tipo de material é disponibilizado para os alunos numa atividade lúdica ou pedagógica? Conforme as idéias de Wallon, a escola infelizmente insiste em imobilizar a criança numa carteira, limitando justamente a fluidez das emoções e do pensamento, tão necessária para o desenvolvimento completo da pessoa.

Estudos realizados por Wallon com crianças entre 6 e 9 anos mostram que o desenvolvimento da inteligência depende essencialmente de como cada uma faz as diferenciações com a realidade exterior. Primeiro porque, ao mesmo tempo, suas idéias são lineares e se misturam - ocasionando um conflito permanente entre dois mundos, o interior, povoado de sonhos e fantasias, e o real, cheio de símbolos, códigos e valores sociais e culturais.

Nesse conflito entre situações antagônicas ganha sempre a criança. É na solução dos confrontos que a inteligência evolui. Wallon diz que o sincretismo (mistura de idéias num mesmo plano), bastante comum nessa fase, é fator determinante para o desenvolvimento intelectual. Daí se estabelece um ciclo constante de boas e novas descobertas.

O eu e o outro

A construção do eu na teoria de Wallon depende essencialmente do outro. Seja para ser referência, seja para ser negado. Principalmente a partir do instante em que a criança começa a viver a chamada crise de oposição, em que a negação do outro funciona como uma espécie de instrumento de descoberta de si própria. Isso se dá aos 3 anos de idade, a hora de saber que "eu" sou. "Manipulação (agredir ou se jogar no chão para alcançar o objetivo), sedução (fazer chantagem emocional com pais e professores) e imitação do outro são características comuns nessa fase", diz a professora Angela Bretas, da Escola de Educação Física da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. "Até mesmo a dor, o ódio e o sofrimento são elementos estimuladores da construção do eu", emenda Heloysa Dantas. Isso justifica o espírito crítico da teoria walloniana aos modelos convencionais de educação.


Biografia

Henri Wallon nasceu em Paris, França, em 1879. Graduou-se em medicina e psicologia. Fez também filosofia. Atuou como médico na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ajudando a cuidar de pessoas com distúrbios psiquiátricos. Em 1925, criou um laboratório de psicologia biológica da criança. Quatro anos mais tarde, tornou-se professor da Universidade Sorbonne e vicepresidente do Grupo Francês de Educação Nova - instituição que ajudou a revolucionar o sistema de ensino daquele país e da qual foi presidente de 1946 até morrer, também em Paris, em 1962. Ao longo de toda a vida, dedicou-se a conhecer a infância e os caminhos da inteligência nas crianças. Militante de esquerda, participou das forças de resistência contra Adolf Hitler e foi perseguido pela Gestapo (a polícia política nazista) durante a Segunda Guerra (1939-1945). Em 1947, propôs mudanças estruturais no sistema educacional francês. Coordenou o projeto Reforma do Ensino, conhecido como Langevin-Wallon - conjunto de propostas equivalente à nossa Lei de Diretrizes e Bases. Nele, por exemplo, está escrito que nenhum aluno deve ser reprovado numa avaliação escolar. Em 1948, lançou a revista Enfance, que serviria de plataforma de novas idéias no mundo da educação - e que rapidamente se transformou numa espécie de bíblia para pesquisadores e professores.

Um mundo em crise
Soldados celebram o fim da Primeira Guerra em Paris: conflitos em série. Foto: HULTON ARCHIVE/Getty Images
Soldados celebram o fim da Primeira Guerra  em Paris: conflitos em série.
Crises sociais e instabilidades políticas foram fundamentais para o francês Henri Wallon construir sua teoria pedagógica. As duas grandes guerras mundiais, o avanço dos regimes fascista e nazista na Europa, a revolução comunista na Rússia e as guerras pela libertação das colônias africanas, na primeira metade do século 20, serviram de estímulo para que ele organizasse suas idéias. A valorização da afetividade (emoções) como elemento essencial no desenvolvimento da pessoa trouxe um novo alento à filosofia da educação. Isso explica, em parte, a visão marxista que deu à sua obra e por que aderiu, no período anterior à Primeira Guerra, aos movimentos de esquerda e ao Partido Socialista Francês. "Ditadura e educação", dizia ele, "são inimigos eternos."


Vamos pensar...

A teoria de Henri Wallon ainda é um desafio para muitos pais, escolas e professores. Sua obra faz uma resistência contumaz aos métodos pedagógicos tradicionais. Numa época de crises, guerras, separações e individualismos como a nossa, não seria melhor começar a pôr em prática nas escolas idéias mais humanistas, que valorizem desde cedo a importância das emoções?

Para aprofundamento de sua prática, leia:
Henri Wallon: uma Concepção Dialética do Desenvolvimento Infantil, Izabel Galvão, 136 págs., Ed. Vozes,
tel. (24) 2246-5552, 20 reais
A Infância da Razão: Uma Introdução à Psicologia da Inteligência de Henri Wallon, Heloysa Dantas, 112 págs., Ed. Manole, tel. (11) 4196-6000 (edição esgotada)
As Origens do Caráter na Criança, Henri Wallon, 278 págs., Ed. Nova Alexandria, tel. (11) 5571-5637
(edição esgotada)
As Origens do Pensamento na Criança, Henri Wallon, 540 págs., Ed. Manole (edição esgotada)
Piaget, Vygotsky e Wallon: Teorias Psicogenéticas em Discussão, Yves de la Taille, Marta Kohl de Oliveira e Heloysa Dantas, 120 págs., Summus Editorial, tel. (11) 3865-9890, 26,90 reais

Jean Piaget

Jean Piaget, o biólogo que colocou a aprendizagem no microscópio

O cientista suíço revolucionou o modo de encarar a educação de crianças ao mostrar que elas não pensam como os adultos e constroem o próprio aprendizado

Jean Piaget. Foto: Camera Press
Jean Piaget
Jean Piaget (1896-1980) foi o nome mais influente no campo da educação durante a segunda metade do século 20, a ponto de quase se tornar sinônimo de pedagogia. Não existe, entretanto, um método Piaget, como ele próprio gostava de frisar. Ele nunca atuou como pedagogo. Antes de mais nada, Piaget foi biólogo e dedicou a vida a submeter à observação científica rigorosa o processo de aquisição de conhecimento pelo ser humano, particularmente a criança.

Do estudo das concepções infantis de tempo, espaço, causalidade física, movimento e velocidade, Piaget criou um campo de investigação que denominou epistemologia genética - isto é, uma teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criança. Segundo ele, o pensamento infantil passa por quatro estágios, desde o nascimento até o início da adolescência, quando a capacidade plena de raciocínio é atingida.

"A grande contribuição de Piaget foi estudar o raciocínio lógico-matemático, que é fundamental na escola mas não pode ser ensinado, dependendo de uma estrutura de conhecimento da criança", diz Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

As descobertas de Piaget tiveram grande impacto na pedagogia, mas, de certa forma, demonstraram que a transmissão de conhecimentos é uma possibilidade limitada. Por um lado, não se pode fazer uma criança aprender o que ela ainda não tem condições de absorver. Por outro, mesmo tendo essas condições, não vai se interessar a não ser por conteúdos que lhe façam falta em termos cognitivos.

Isso porque, para o cientista suíço, o conhecimento se dá por descobertas que a própria criança faz - um mecanismo que outros pensadores antes dele já haviam intuído, mas que ele submeteu à comprovação na prática. Vem de Piaget a idéia de que o aprendizado é construído pelo aluno e é sua teoria que inaugura a corrente construtivista.

Educar, para Piaget, é "provocar a atividade" - isto é, estimular a procura do conhecimento. "O professor não deve pensar no que a criança é, mas no que ela pode se tornar", diz Lino de Macedo.

 Assimilação e acomodação

Com Piaget, ficou claro que as crianças não raciocinam como os adultos e apenas gradualmente se inserem nas regras, valores e símbolos da maturidade psicológica. Essa inserção se dá mediante dois mecanismos: assimilação e acomodação.

O primeiro consiste em incorporar objetos do mundo exterior a esquemas mentais preexistentes. Por exemplo: a criança que tem a ideia mental de uma ave como animal voador, com penas e asas, ao observar um avestruz vai tentar assimilá-lo a um esquema que não corresponde totalmente ao conhecido. Já a acomodação se refere a modificações dos sistemas de assimilação por influência do mundo externo. Assim, depois de aprender que um avestruz não voa, a criança vai adaptar seu conceito "geral" de ave para incluir as que não voam.

Estágios de desenvolvimento

Um conceito essencial da epistemologia genética é o egocentrismo, que explica o caráter mágico e pré-lógico do raciocínio infantil. A maturação do pensamento rumo ao domínio da lógica consiste num abandono gradual do egocentrismo. Com isso se adquire a noção de responsabilidade individual, indispensável para a autonomia moral da criança.

Segundo Piaget, há quatro estágios básicos do desenvolvimento cognitivo. O primeiro é o estágio sensório-motor, que vai até os 2 anos. Nessa fase, as crianças adquirem a capacidade de administrar seus reflexos básicos para que gerem ações prazerosas ou vantajosas. É um período anterior à linguagem, no qual o bebê desenvolve a percepção de si mesmo e dos objetos a sua volta.

O estágio pré-operacional vai dos 2 aos 7 anos e se caracteriza pelo surgimento da capacidade de dominar a linguagem e a representação do mundo por meio de símbolos. A criança continua egocêntrica e ainda não é capaz, moralmente, de se colocar no lugar de outra pessoa.

O estágio das operações concretas, dos 7 aos 11 ou 12 anos, tem como marca a aquisição da noção de reversibilidade das ações. Surge a lógica nos processos mentais e a
habilidade de discriminar os objetos por similaridades e diferenças. A criança já pode dominar conceitos de tempo e número.

Por volta dos 12 anos começa o estágio das operações formais. Essa fase marca a entrada na idade adulta, em termos cognitivos. O adolescente passa a ter o domínio do pensamento lógico e dedutivo, o que o habilita à experimentação mental. Isso implica, entre outras coisas, relacionar conceitos abstratos e raciocinar sobre hipóteses.


Ajudando o desenvolvimento do aluno
Brincadeira de casinha: estímulo aos alunos na idade da representação. Foto: Masao Goto Filho
Brincadeira de casinha: estímulo aos alunos  na idade da representação.
A obra de Piaget leva à conclusão de que o trabalho de educar crianças não se refere tanto à transmissão de conteúdos quanto a favorecer a atividade mental do aluno. Conhecer sua obra, portanto, pode ajudar o professor a tornar seu trabalho mais eficiente. Algumas escolas planejam as suas atividades de acordo com os estágios do desenvolvimento cognitivo. Nas classes de Educação Infantil com crianças entre 2 e 3 anos, por exemplo, não é difícil perceber que elas estão em plena descoberta da representação. Começam a brincar de ser outra pessoa, com imitação das atividades vistas em casa e dos personagens das histórias. A escola fará bem em dar vazão a isso promovendo uma ampliação do repertório de referências. Mas é importante lembrar que os modelos teóricos são sempre parciais e que, no caso de Piaget em particular, não existem receitas para a sala de aula.


Biografia

Jean Piaget nasceu em Neuchâtel, Suíça, em 1896. Aos 10 anos publicou seu primeiro artigo científico, sobre um pardal albino. Desde cedo interessado em filosofia, religião e ciência, formou-se em biologia na universidade de Neuchâtel e, aos 23 anos, mudou-se para Zurique, onde começou a trabalhar com o estudo do raciocínio da criança sob a ótica da psicologia experimental. Em 1924, publicou o primeiro de mais de 50 livros, A Linguagem e o Pensamento na Criança. Antes do fim da década de 1930, já havia ocupado cargos importantes nas principais universidades suíças, além da diretoria do Instituto Jean-Jacques Rousseau, ao lado de seu mestre, Édouard Claparède (1873-1940). Foi também nesse período que acompanhou a infância dos três filhos, uma das grandes fontes do trabalho de observação do que chamou de "ajustamento progressivo do saber". Até o fim da vida, recebeu títulos honorários de algumas das principais universidades européias e norteamericanas. Morreu em 1980 em Genebra, Suíça.

Reflexão

Os críticos de Piaget costumam dizer que ele deu importância excessiva aos processos individuais e internos de aquisição do aprendizado. Os que afirmam isso em geral contrapõem a obra piagetiana à do pensador bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934). Para ele, como para Piaget, o aprendizado se dá por interação entre estruturas internas e contextos externos. A diferença é que, segundo Vygotsky, esse aprendizado depende fundamentalmente da influência ativa do meio social, que Piaget tendia a considerar apenas uma "interferência" na construção do conhecimento. "É preciso lembrar que Piaget queria abordar o conhecimento do ponto de vista de qualquer criança", diz Lino de Macedo em defesa do cientista suíço. Pela sua experiência em sala de aula, que peso o meio social tem nos processos propriamente cognitivos das crianças? Como você pode influir nisso?

Saiba mais e melhore suas aulas
Atualidade de Jean Piaget, Emilia Ferreiro, 144 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444 (edição esgotada)
Biologia e Conhecimento, Jean Piaget, 423 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2246-5552, 59,50 reais
Epistemologia Genética, de Jean Piaget, 124 págs., Ed. Martins Fontes, tel. (11) 3241-3677, 25,40 reais
Piaget - O Diálogo com a Criança e o Desenvolvimento do Raciocínio, Maria da Glória Seber, 248 págs., Ed. Scipione, tel. 0800-161-700, 49,90 reais
Por que Piaget?, Lauro de Oliveira Lima, 72 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2246-5552, 16,40 reais